sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

132.

Eu queria te pedir desculpas pelas coisas que você não sabe que eu faço contigo. Pela tortura velada e pelo prazer que eu sinto na culpa. Mas eu acabei por tomar como meu algum tanto do peso da maldade que me pintam na pele e, quando eu sei do mal que faço... parece que tudo fica no lugar certo, familiar como aquelas boas coisas que não mudam nunca, todas malditas.
Talvez seja o puro prazer da chacina, eu detestaria admitir.
No fim do dia... eu não sei se gosto mais do teu sofrer ou de quando você consegue ser mais forte que todos os meus venenos. E quando amanhece... nada é suficiente. Ninguém é.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

131.

Eu sei o que faço vocês fazerem de mim. Eu sei bem do que não faço e do que quero e quando e como.
Sempre. Eu sempre quero que seu querer me escape e acabe por violar meus caprichos nus.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

130.

É frio e metálico o gosto do que perco de propósito. Se mando embora de mim algo de vida é que restou um bocado daquela vontade de pegar o que quer que você veja de melhor em mim - um melhor puro, estanque e sem espaço pra pecado - e queimar, matar, jogar fora, sufocar e prender, torturar, desperdiçar. Desperdiçar.
É muito desaforo se achar tranqüilo na posição de quem diz que o outro não sabe o que faz de si.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

129.

Gosto das minhas cinzas voando janela afora e dos pedaços de papel que minhas mãos largam quando se cansam de segurar o peso do que escrevem. Minhas mãos precisam de freio pra corrigir essa autocondescendência que eu não suporto. Ficam sempre fugindo das conseqüências dos próprios atos e sobra pra minha boca que fala demais falar mais um pouco até estragar o que não podia mais ser estragado, maquiando minhas durezas com desculpas e manchando meu tempo com uma paciência fingida.
Treinei exposição forçada por desespero, não consigo mais me conter.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

128.

É só a tentativa de organizar que consome.
Se eu deixo ser, vive. Eu sempre acabo interferindo.
É que assusta, quando foge do programado, pra melhor. Quando foge dum controle fajuto e ganha vida melhor do que eu poderia dar se quisesse. Escravização de trás pra frente e vice-versa, eu mato tudo que é bom querendo que nada me escape.
Todo um novo conceito de insegurança, não mencionado, não menos existente. Eu não sei me mostrar assim em cores vivas, me contento em me mostrar vulgar, de atalho.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

127.

Ela é vento, ela é árvore, ela é só o que é feito dela.
Pé no chão, sujo e sonho.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

126.

And that cold thing happens to my stomach, continuo inerte e estúpida como um pedaço de barro que endureceu por não se dar o tempo de ser moldado.
Quer ser cerâmica antes da hora, podia se tornar alguma coisa, tem pressa e corre e não consegue.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

125 sem revisões, a via sacra lá fora

A história da minha vida... eu adquiro capacidades e perco uma outra e alguma beleza. E me calo e vou vendo e, de repente, grito que não concordo, que "é um absurdo!" e todo "não pode" a que eu tenho direito. Sou uma suicida, sempre avisei. Uma que não se mata nunca.
Aí me pesam todas as dores e eu não consigo ou quero dançar conforme a música. E tenho asco de quem fala de uma tragédia em cores vivas pra entreter o café da tarde. E acho tudo descabido, mau, feio, acho que "é tudo arbitrário, tudo arbitrário, tudo arbitrário", significando muito mais do que isso diz.
Me dá mais um peso e alguma morte e eu vou levando... me dá mais uma saudade e eu, depois de chorar dois dias sem descanso (e agora choro, pelo menos), eu levo a vida. Eu fico calma. Eu fico calma com facilidade, por causa dos meus "não pode". E é natural, se é natural sou eu, e então tudo bem, eu acho que tá certo, você não pode ficar com raiva por outra pessoa, tomar decisões na casa dos outros, contaminar consigo o que não é seu pra sentir. Mas é natural? E natural sou eu? É natural, se não passa? Os males do mundo, me marcam, por quê?
Natural de mim é ser mecânica, eu não sou nenhum dos dois.
Aí pensando bem, tudo se dissolve... menos minhas dores... e tudo me lembra que eu não deixo ir.

Eu não aceito, se estiver qualquer tanto bem, me omitir dessas questões, bem mais reais, pra ir a uma aula de discussões que eu não quero assistir. Mais que isso, quero não assistir, faço questão.

Aí faz o quê? Vive essa coerência e auto-respeito, não conclui nada, não consegue o mínimo de auto-realização da qual se precisa, não consegue, erra, falha, deixa passar, se arrepende, não, isso nunca, e não aprende a dosar? Espernear não adianta nada, e disso eu sei, mas é que...
de quantas omissões de si alguém precisa pra se resignar?
Por que crescer mata?
Eu não posso não querer me doutrinar e, ainda assim, sobreviver?

Aí me dá nojinho, eu nunca pensei que fosse ser uma sonhadora. Tudo em mim aponta pro que é certo, eu acho certas outras coisas.

terça-feira, 15 de março de 2011

124.

Exatamente como parece, eu ando sumida da minha ex-vida rápida e cheia de cores borradas no fim. Quase sempre é calma, às vezes preguiça, mesmo.
No resto do tempo é reflexão ou logo começa a coçar. A vontade de arremessar meu próprio corpo e poder ser pagã com sentimentos e expectativas. Mas eu sou, e agora me lembro, pessoa estável e ponderada.
Não sei quando consigo me libertar da minha presente paz. Não sei se meu desespero tinha alguma liberdade.
Já tinha tempo que eu ficava observando e pensando, de mim mesma, que aquela histeria em doses leves, vinda de lugar nenhum, não era charmosa.
Eu não sei mais ter toda aquela vida que de viva não tinha nada, nem o que fazer dos meus conceitos bobos.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

123.

Eu quero demais e sempre vou querer.
Eu quero mais que isso, mais que você e mais que as coisas.
Eu quero sempre.