terça-feira, 22 de maio de 2012

136.

Pouco importa se é coerência ou covardia que eu não queira nada contigo. As duas coisas, fato, cabem bem no mesmo espaço. Porque coragem, pra pessoa que eu sou, seria ser incoerente, jogar pro alto e achar que eu posso qualquer coisa, só porque sim. Não acho. Não quero. Todas as coisas a teu respeito são lindas e eu não as quero juntas num corpo que me toque, com tantas lacunas, tantos talvez. Tem muita coisa em aberto, muita coisa que já morreu e a gente finge que ainda existe e muita coisa que existe pra gente fingir que isso morreu, o suficiente pra tornar impossível que qualquer coisa seja, de fato. Eu não quero mais nada disso, eu não quero sua incapacidade de saber o que as coisas significam pra você. Eu às vezes não quero nem ver sua cara de quem não sabe de nada, mas tenta bastante.
Eu acho que dá... te ver por aí e não disfarçar nem morrer, tratar a tortura que de fato é com uma naturalidade que pode acabar por vir. E saber que a maioria das pessoas nem vai desconfiar, não importa quão óbvia seja a expressão no meu rosto, porque não é com isso que as pessoas se preocupam. E torcer pra que outro cara, eventualmente do meu lado, não perceba, também. Porque as pessoas têm o estranho costume de se sentirem ofendidas pelos sentimentos dos outros, pelas histórias dos outros, como se isso as diminuísse, será? Também não importa. De orgulho basta a ausência do meu.
As coisas vão importando menos à medida que todos os nomes que eu tenho pra isso não servem, todas as explicações em que eu penso não cabem e todos os sentimentos que vêm à tona não bastam.
Ignorar os próprios sentimentos é fácil. Não é coerente com a pessoa que eu quero ser, mas é fácil. Ver sentimentos que tomam autonomia e são e queimam e continuam sendo, intensamente e, mesmo assim, não bastam, dói. Nada basta, nada fica, nada morre, tudo dói.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

135.

Não me importam sua ausência e a vilania das coisas. Meu amor se enamora de verdades, a despeito de nãos.