terça-feira, 24 de abril de 2012

134.

Repudiar as correntes de uma moral herdada e má, com força, com nojo, aos quatro ventos, não liberta.
Eu já sei que a falta de sentido não redime a culpa, que ódio não é antídoto pra nada e que não existe ser humano livre de si mesmo.
Ainda assim e sempre, sem saber como, queria poder viver meu corpo, perder meu discernimento e ser, de fato, e poder amar, e que minha cabeça no travesseiro concordasse com minhas convicções: não há sujo, não há mal, não há erro em ser carne e fogo e lama e fumaça e pele e língua e olhos.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

133.

Isso caberia em qualquer um de vocês...
Não quero mais escrever. Eu já disse tudo que devia e só quero dizer mais por não ter dito quando deveria... não que fizesse diferença... eu não quero mais dizer. Eu não quero mais sentir. Agora eu só quero saber: eu posso matar?

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

132.

Eu queria te pedir desculpas pelas coisas que você não sabe que eu faço contigo. Pela tortura velada e pelo prazer que eu sinto na culpa. Mas eu acabei por tomar como meu algum tanto do peso da maldade que me pintam na pele e, quando eu sei do mal que faço... parece que tudo fica no lugar certo, familiar como aquelas boas coisas que não mudam nunca, todas malditas.
Talvez seja o puro prazer da chacina, eu detestaria admitir.
No fim do dia... eu não sei se gosto mais do teu sofrer ou de quando você consegue ser mais forte que todos os meus venenos. E quando amanhece... nada é suficiente. Ninguém é.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

131.

Eu sei o que faço vocês fazerem de mim. Eu sei bem do que não faço e do que quero e quando e como.
Sempre. Eu sempre quero que seu querer me escape e acabe por violar meus caprichos nus.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

130.

É frio e metálico o gosto do que perco de propósito. Se mando embora de mim algo de vida é que restou um bocado daquela vontade de pegar o que quer que você veja de melhor em mim - um melhor puro, estanque e sem espaço pra pecado - e queimar, matar, jogar fora, sufocar e prender, torturar, desperdiçar. Desperdiçar.
É muito desaforo se achar tranqüilo na posição de quem diz que o outro não sabe o que faz de si.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

129.

Gosto das minhas cinzas voando janela afora e dos pedaços de papel que minhas mãos largam quando se cansam de segurar o peso do que escrevem. Minhas mãos precisam de freio pra corrigir essa autocondescendência que eu não suporto. Ficam sempre fugindo das conseqüências dos próprios atos e sobra pra minha boca que fala demais falar mais um pouco até estragar o que não podia mais ser estragado, maquiando minhas durezas com desculpas e manchando meu tempo com uma paciência fingida.
Treinei exposição forçada por desespero, não consigo mais me conter.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

128.

É só a tentativa de organizar que consome.
Se eu deixo ser, vive. Eu sempre acabo interferindo.
É que assusta, quando foge do programado, pra melhor. Quando foge dum controle fajuto e ganha vida melhor do que eu poderia dar se quisesse. Escravização de trás pra frente e vice-versa, eu mato tudo que é bom querendo que nada me escape.
Todo um novo conceito de insegurança, não mencionado, não menos existente. Eu não sei me mostrar assim em cores vivas, me contento em me mostrar vulgar, de atalho.