segunda-feira, 28 de junho de 2021

148.

Ela me contou que era ciúme. A distância, o olhar de escárnio que quase se mostra admiração. Era ciúme por causa de como ele falava de mim, escrevia sobre mim. Eu senti profundamente no meu peito um pesar baixinho, por nós duas, e disse que ele escreveu sobre mim, mas nunca me conheceu.
Me transformou em musa - eu chamo de fantasma - porque tinha medo da mulher. Quem eu fui ali só existiu dentro dele, a mulher que eu sou ele nunca viu, nem dormindo.
Tinha medo do que ia sentir, do que ia fazer, do que eu não ia acatar.
Não digo que não tenha sofrido, sofreu tanto que quase virou poeta. Quando foi poeta, sentiu tão profundamente a si mesmo que só pôde sentir isso. O restante de nós, espelhos com formatos diferentes, seu sofrimento autorizava.
Depois se ensimesmou ainda mais, ficou só, te conheceu.
Ele escreveu sobre mim, mas talvez tenha te amado.

Nenhum comentário: