quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

142.

Reaprendendo o que fingi esquecer por me deixar roubar de mim mesma.
Repaginando a história das minhas veias, revivendo o curso das entregas e repintando todas as paredes, o teto e o espaço. De laranja. Laranja, lilás e verde. De amor.
Dançando no caos por ser também o caos, não por ser arremessada no vazio. Dançando na ordem igual, dançando no fogo.
Compreendendo o que tinha na mente, mas não no peito. Sobre mim e sobre o que emana de mim. Aprendendo a receber. Por isso, sabendo estar inteira.
Jornadas assustadoras começam tão casuais, que nem dá pra estar alerta. Só assim, pra embarcar e aprender, a penas que não aceitaria se soubesse.
Aprendendo, reaprendendo e desaprendendo que viver parece ser todo processo por inteiro, do início ao fim e avesso-contrário. Sem pé nem cabeça. De corpo e alma.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

141.

Soube tudo o que não queria e vi mais do que gostaria, sempre.
Agora, quero mostrar. De volta. Das minhas costas, às suas custas, aquelas culpas.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

140.

Uma insatisfação vem cronicando, histórica, me ganhando no medo. Medo de estar errada, estar com mais vontade de cegueira do que fato. Não sei mais de análise, nem interpretar meus lampejos sãos.
Não me lembro do que tinha pra saber se o que me falta é porque me falta sempre ou é mesmo o que preciso.
Sempre em falta, mas... mesmo assim, mais que nunca.
Não me basta, não me esquenta, não me cobre. Deve ser por isso que quero sempre tão perto, porque perto já é só meio.
Admirando assim todas as coisas que você tem tanto, e ninguém mais, sempre concluo que preciso de mais, justamente do que não posso pedir, não devo querer, talvez não adiante, nem sei se piora, e se eu disser, mas deixa pra lá, é bem isso que eu faço: emaranho todas as pontas e nós, mais nós ainda e pronto, finjo que esqueço, não concluo. Eu não quero saber o que eu sei a respeito.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

139.


Da melancolia só me salva essa voracidade; de pista só te restam as unhas, crescentes, e a lua cheia.
É no despertar que eu vejo os dedos melados de sangue e a manhã púrpura. Já não me surpreendo no espelho, os olhos serão de rapina.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

138.

E, de repente, se juntam, sem aviso, todas as quimeras, com aviso. Os filhos que eu não terei, as perdas que se repetirão e as dores já anunciadas, menos místicas, que acabarão por conseguir me matar, anunciadas, anunciadas sempre, que eu não admito pra não fazer muito de mim mesma, pra não fazer de mim morte anunciada como os grandes videntes de seus próprios destinos e dessa desgraça toda.

terça-feira, 19 de junho de 2012

137.

Mesmo sendo minha e só, assim, como dá pra ver,
não me parece, reparando, que meu corpo seja meu.
Aquela sensação estranha de ter sempre mãos, as suas, ainda quentes sobre a pele.
Essa metamorfose que o costume causa e a vontade afirma, a pele se adapta e mudam os usos e abusos, quando sim. As partes não são mais todo, são prática.
O que já foi cintura é pra segurar. Empurrar, apertar e puxar pra si.
E quando eu vi, já via outra coisa, também. Sua pele nem é pra ser pele, é pra se encostar em mim.

terça-feira, 22 de maio de 2012

136.

Pouco importa se é coerência ou covardia que eu não queira nada contigo. As duas coisas, fato, cabem bem no mesmo espaço. Porque coragem, pra pessoa que eu sou, seria ser incoerente, jogar pro alto e achar que eu posso qualquer coisa, só porque sim. Não acho. Não quero. Todas as coisas a teu respeito são lindas e eu não as quero juntas num corpo que me toque, com tantas lacunas, tantos talvez. Tem muita coisa em aberto, muita coisa que já morreu e a gente finge que ainda existe e muita coisa que existe pra gente fingir que isso morreu, o suficiente pra tornar impossível que qualquer coisa seja, de fato. Eu não quero mais nada disso, eu não quero sua incapacidade de saber o que as coisas significam pra você. Eu às vezes não quero nem ver sua cara de quem não sabe de nada, mas tenta bastante.
Eu acho que dá... te ver por aí e não disfarçar nem morrer, tratar a tortura que de fato é com uma naturalidade que pode acabar por vir. E saber que a maioria das pessoas nem vai desconfiar, não importa quão óbvia seja a expressão no meu rosto, porque não é com isso que as pessoas se preocupam. E torcer pra que outro cara, eventualmente do meu lado, não perceba, também. Porque as pessoas têm o estranho costume de se sentirem ofendidas pelos sentimentos dos outros, pelas histórias dos outros, como se isso as diminuísse, será? Também não importa. De orgulho basta a ausência do meu.
As coisas vão importando menos à medida que todos os nomes que eu tenho pra isso não servem, todas as explicações em que eu penso não cabem e todos os sentimentos que vêm à tona não bastam.
Ignorar os próprios sentimentos é fácil. Não é coerente com a pessoa que eu quero ser, mas é fácil. Ver sentimentos que tomam autonomia e são e queimam e continuam sendo, intensamente e, mesmo assim, não bastam, dói. Nada basta, nada fica, nada morre, tudo dói.