segunda-feira, 2 de agosto de 2010

99.

Já ouvi gente falar isso e aquilo e até aquilo outro de homens, de antigamente, de homens de antigamente, de mulheres moderninhas, de mea culpa - e mea culpa é, no fundo, inerente à "alma" feminina, acaba sendo, sempre é. Só porque amarraram todas as vergonhas ao corpo feminino. Só por isso.
Sempre ouço gente falar as maiores atrocidades do mundo de hoje, de velhos tempos, da pouca vergonha generalizada, que o mundo é gay e preconceito nem existe mais. Dá pra ver, em luzes de néon, os nós forçados que ligam o discurso. "Não existe mais vergonha na cara no mundo que vivemos. O mundo já é gay, o preconceito é mínimo. Pode existir, mas tá desaparecendo. Tá tudo uma grande bagunça." Vergonha na cara e homossexualidade não andam juntas. Porque preconceito é, de certa forma, vergonha na cara? Coisa que gay não tem. Nem vergonha na cara nem preconceito, é. Isso é propriedade institucional da moral cristã.
Ah, vá!?
No fim das contas, será que algumas coisas são verdade? São verdade porque fizeram com que fossem? São porque a gente repete, cede e deixa passar? Fico vendo umas fórmulas de conduta, absurdas por definição, serem bem-sucedidas. Umas noções pré-estabelecidas sendo sempre recompensadas. Umas idéias insanas encontrando respaldo empírico. A arte de ser mulher é se utilizar do poder social não declarado? Comandar seu marido, no silêncio de dentro de casa, deixando ele achar que as idéias dele são dele? Andam juntas emancipação e masculinidade? A grande maioria acredita mesmo que as mulheres não são mais mulheres? A gente cuida mais de alguém quando faz sexo com outras pessoas em segredo? A gente só dá valor quando perde? Santa na rua e puta na cama? O que os olhos não vêem o coração não sente? Manga e leite, você já teve medo de misturar?

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