quarta-feira, 17 de março de 2010

79.

Um desesperozinho vai subindo pelo meu estômago quando eu penso nas coisas de mim que me arremessam contra mim mesma.
Quando eu me acho desnecessária, com os dentes cerrados. Faço pra mim mesma aquela famosa cara de desgosto e começo a numerar, sem os números, meus monstros e pesadelos e defeitos e manias e essas coisas que eu fico repetindo e me fazendo fazer e me deixando fazer e repetindo, nas horas erradas.
É como se eu fosse muito pesada. Infinitamente pesada - e eu sou - de absolutamente nada que contenha alguma coisa preciosa o suficiente pra compensar. Cheia demais pra viver, mas de substância nenhuma além de ar. Um ar pesado e poluído, que fica recolhendo, polindo e mantendo dejetos ao longo do caminho, colocando em gavetas e prateleiras e no chão, quando eu tenho medo de deixá-los escondidos.
Penso mais em tudo isso na hora de dormir e não durmo o que devia pra pensar com mais tranqüilidade e eu tenho medo do escuro e aí fica tudo tão grande que todo o meu exagero deixa de ser e minhas reclamações-objeto tomam o tamanho em que são descritas.
Eu sei que paz de espírito não é um ideal ou um grande valor, pra mim. Mas em noites assim, eu quase rezo. Em umas piores, eu quase choro. Eu quase faço as coisas certas, sempre.

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